Início Crônica 7 de setembro – 200 anos … Ah! Minha Pátria!

7 de setembro – 200 anos … Ah! Minha Pátria!

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Ah! Minha pátria!

O que dizer da minha pátria?…

A minha pátria é grande… Grande sim! De uma extensão que não se pode medir com os olhos, mas com o pensamento. De horizonte a horizonte, norte a sul.

A minha pátria é bela… Bela sim! De uma beleza sem igual: praias, cachoeiras, montanhas, florestas. É verde a perder de vista! É azul sobre azul de tanto mar!

A minha pátria é a diversidade! Tem muitas cores e gestos e falares… Gente hospitaleira, sorridente e trabalhadora! De cabelos lisos ou crespos, de olhos claros ou pretos…

E gente de todo lugar pensaria ser a minha pátria o melhor lugar para se estar!

E gente de todo canto sentiria mesmo a vontade inebriante de aqui viver…

Mas, a minha pátria não é nada disso!

A minha pátria é a pátria da miséria e do descaso!

A minha terra tem propina à vontade, tem suborno, tem jeitinho, muito papel e sempre um povo espertinho!

A minha terra tem desvio à vontade, tem imposto, impostão, impostinho, pra tirar calça, sapato e ficar nuzinho!

A minha terra tem politicanalha à vontade, tem em todo lugar, em toda cidade, de todo gosto, tamanho e idade!

A minha terra tem confissão, delação, homologação, gravação, tem papel, cópia, áudio, Fake News, mas não é suficiente não!

A minha terra é isso aí: tiro, fila, promessa, abuso e buraco!

A minha terra é isso aí: faca, flanelinha, arrastão e sarcasmo!

Não há outra terra como a minha! Tão diferente! Tão singular!

Não há terra como esta! Rouba-se a qualquer hora e lugar!

Uma terra de fracasso, de utopias e de pouca memória!

Uma terra de tipos e figuras, de teatro da própria história!

A minha crônica não pode dizer outra coisa que não seja esse grito, essa raiva, esse nó na garganta, esse sufoco, essa luta, esse impulso, esse gesto, esse dedo na cara…

A minha crônica não pode dizer que os bosques têm mais flores, sequer que os seios têm mais amores. Não pode dizer sobre ordem e progresso, não pode falar sobre ter mais vidas…

A minha pátria é uma grande vergonha!

E eu, envergonhado de ser brasileiro, não comemoro mais esse dia.

E eu, envergonhado de viver em um país tão absurdo e medíocre, não comemoro mais esse dia!

E eu, envergonhado de estar onde estou, não posso e não devo mais comemorar esse dia!

Eu não deveria ter vergonha, não roubei.

Eu não deveria ter vergonha, não barganhei.

Eu não deveria ter vergonha, não delatei.

Eu não deveria ter vergonha, mas tenho!

Tenho uma vergonha imensa dessa paralisia, dessa apatia, desse desastre político!

A minha pátria é isso: fazer um brasileiro ter uma grande e estúpida vergonha de ser brasileiro!

Ah minha pátria é isso: um luto constante e cortante de um país que tinha tudo para ser … E não foi!

Campista Cabral – Escritor, poeta e cineasta amador.